sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Frases Curtas
É. Se foi. Não tem jeito. Tinha uma música. E era assim. Já ouvi. Algo mudou. Tudo. Outro momento. Demorou mas passou. Passou? Tudo passa. Fechado. Reformas. Há de ser. Pensamentos. Sempre soltos. Sentido. Saudades. Já vi por aí. Por que? Porque. O porquê. Pô... o que? Ordenar. Ordenado. Condenado. mandatório. Mudanças. Tô indo. Descalço. Sem sapato. Olhando de longe. Faz sentido. De perto. É sensato. Moribundo. Só resgate. Resgatando. Só pedaços. Sem rima. Sem prosa. Sem verso. Nem conversa. Parou a chuva. E a tempestade. Não tem sol. Nem saudade. Nem notícia. Nem novidade. O novo. Há de vir. Há de pintar. Por aí. Gil disse. Tumultuada. Só a cidade. Suspiro. Sem Parágrafo. Pro respiro. Segue o passo. Veloz. Irrequieto. Corriqueiro. Solitário. Solidário. Com o alheio. Texto curto. Idéia longa. Idéia Longe. Apagada. Tela pintada. Manchada. Quadro pintado. Sem Flor. Amanheceu. É dia. Sem noite. Paro aqui. Já disse tudo. Escrevi nada. Sem desespero. Serenidade. E Chega o fim. E o fim é a pausa. A maior pausa. Da humanidade.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Solavanco 2013
De quando em vez ponho-me a divagar entre as letras que
escorrem do meu teclado e fico admirando o tempo passar sem que nada de
proveitoso eu coloque no mundo das letras. Isso certamente poupa o prezado, e
raro, leitor dos infortunados pensamentos semeados por este escriba, mas desta
vez quero fazer diferente, já que o ano se mostra iniciado após as momescas
celebrações!
Aposentado o ofício de pessoa semi-séria desde alguns dias passados,
deixei uma fresta de olho aberta para acompanhar o Carnaval. Não consegui superar a inércia
e a precaução a ponto de ir pessoalmente ver os balagadans saculejantes na
avenida, mas sintonizei na TV e posicionei-me a uma distância segura. Mesmo
assim fui atingido por polpudas nádegas que teimavam em mostrar aquilo que um
dia era conhecido por nomes mais carinhosos... Diante do sucesso recheado de silicone, tudo no Carnaval
toma proporções dantescas. Os carros alegóricos tornaram-se moradia de seres
medonhos. Figuras móveis que bufam, piscam, dragões ou criações gigantescas... são
quase fantasmagóricos...vez ou outra até percebia que tinha gente desfilando...
isso quando as fantasias, penas, plumas e paetês permitiam ver uma boca ou um
olho atrás do enredo-vestido-de-gente.
Sambas incantáveis! Deve demorar um ano pra decorar letras
tão complexas com rimas ocultas e significados misteriosos. A velha guarda
desfilava no meio das carnes balançantes cantando sambas que melhor lhe viessem
à memória. Os intérpretes que já chegavam pré-suados no carro, davam o grito de
guerra... chamavam a comunidade na marra pro pau e lascavam o gogó por duros 88
minutos.
Enquanto isso comentaristas, dotados de uma cultura
avantajada, despejavam uma verborragia de jargões nascidos e ensaiados para dias
como estes que se passaram. 50 mil tomadas diferentes de câmera não permitiam nem saber se a escola estava no meio ou no fim do desfile.
A apuração foi outra festa... mas com uma tensão adicional: como
se a vida dependesse disso para seguir seu curso. Cordões e dentes de ouro
desfilaram entre milhares de papeis sobre as mesas do Sambódromo. Canetas
frenéticas anotaram cada décimo de nota conquistado ou perdido. Teve abraço no
presidente, no carnavalesco, no repórter...confraternização e agradecimentos à um
rosário inteiro de divindades que, reza a lenda, estiveram por ali na hora do
desfile. Tenho cá minhas dúvidas.
Mas isso não é uma crítica!!! De forma alguma. É somente
minha opinião. Teve seus momentos bons: a cerveja gelada goela abaixo em
concordância maléfica com o antibiótico ingerido previamente fez um barato
legal! Melhor do que 3D. Nunca tinha visto o jacaré de papo-amarelo abraçado
com a Águia da Portela, mas esse ano ele tava lá.. .ou melhor aqui em casa!
Diante do que vi, arrisco o cargo de previsões para o
Carnaval de 2014: Ano que vem vão criar o Carnaval dual-layer: Um escola no
andar de baixo e outra no andar de cima. Uma indo e outra voltando. E com malabares
de fazer inveja ao pessoal do Soleil. As paradinhas da bateria durarão uns 30
ou 40 minutos... e vão voltar tocando bolero-funk em cuícas eletrônicas efeitadas com LEDs. No
nordeste devem continuar os ritmos que só ficam bons por lá mesmo e um pouco
melhores se dançados na horizontal.... é tanto esfrega-gente no circuito
Barra-Ondina que se não jogarem água de vez em quando deve sair até fogo...
Trios elétricos tocarão sucessos duvidosos com cerca de 5000 pessoas trepadas em cima... e algumas outras tantas
trepando embaixo, regadas com bebidas energéticas vendidas em galões de 5 litros.
Mas é hora de cinzas na testa. Fim de pista para o folião
cansado. Agora resta pagar a fantasia e o IPVA. E seguir a vida entre os
engarrafamentos e trens lotados a espera de um novo festival da carne. Para o
pessoal da fé, tem que rezar muito, mesmo sem Papa pra segurar a onda de
2013...
Putz... e eu que tava contando com o fim do mundo...
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
O Grito
Agora estou caminhando sozinho. Ainda sinto a minha sombra dupla como se dois eu tivesse sido por um tempo, mas olho pro lado e nada mais vejo. Dói a dor pois que a dor dói. Sem permissão nenhuma a decisão entrou porta adentro e rebelou-se com o marasmo das minhas indecisões. E pôs o fim naquilo que pairava desde que nasceu. E mesmo nascido, temido e desejado estava novamente em curso de resilição, como em todas as outras vezes, mas conservava no seu trajeto a chance de mudar o destino.
Velho destino. Tão velho quanto a sombra de fatos não resolvidos d´outrora que se arrastaram até ontem. E quando eu ler isto novamente daqui uns anos, o texto, imutável pela sua natureza, ainda conservará o gosto de ontem neste parágrafo. Mas se partiu. No sentido duplo do verbo. Que nem o coração e o movimento. Aquele em pedaços e este para frente, pois que já se decidiu. E assim tem sido e será.
Analiso o que resta aos poucos. Não quero ver o todo, pois o todo traz consigo o tudo. E tudo é o que não tenho. Falha minha? Talvez. Falta grave, que absorto no presente, não via o futuro gritar à frente. Mas ele chegou e vingou-se. Destemperado. Não foi surpresa, mas me surpreende ao olhar ao lado e não ver mais a causa da minha dupla-sombra. Eis que agora é assim: eu sem nada dizer e sem nada escutar. Mas eu que sempre falava nunca escutei, apesar de atento. Ao menos é do que reclamo. O silêncio ensurdecedor reforça o hiato deste momento.
Não há de ter só fuligem dentre os escombros...forma amorfa do que resta de mim ressecado pela inação. E já que tenho dito das mudanças, elas estão passando a toda velocidade e eu aqui... parado... olhando... sem saber de que jeito pode a chuva ainda cair e as pessoas passarem pela rua como se nada tivesse acontecido. Supostamente sou menor em importância pra mim mesmo do que imaginava. Nem mesmo consegui me salvar. Restará sobreviver, já que viver tá uma barra.
Velho destino. Tão velho quanto a sombra de fatos não resolvidos d´outrora que se arrastaram até ontem. E quando eu ler isto novamente daqui uns anos, o texto, imutável pela sua natureza, ainda conservará o gosto de ontem neste parágrafo. Mas se partiu. No sentido duplo do verbo. Que nem o coração e o movimento. Aquele em pedaços e este para frente, pois que já se decidiu. E assim tem sido e será.
Analiso o que resta aos poucos. Não quero ver o todo, pois o todo traz consigo o tudo. E tudo é o que não tenho. Falha minha? Talvez. Falta grave, que absorto no presente, não via o futuro gritar à frente. Mas ele chegou e vingou-se. Destemperado. Não foi surpresa, mas me surpreende ao olhar ao lado e não ver mais a causa da minha dupla-sombra. Eis que agora é assim: eu sem nada dizer e sem nada escutar. Mas eu que sempre falava nunca escutei, apesar de atento. Ao menos é do que reclamo. O silêncio ensurdecedor reforça o hiato deste momento.
Não há de ter só fuligem dentre os escombros...forma amorfa do que resta de mim ressecado pela inação. E já que tenho dito das mudanças, elas estão passando a toda velocidade e eu aqui... parado... olhando... sem saber de que jeito pode a chuva ainda cair e as pessoas passarem pela rua como se nada tivesse acontecido. Supostamente sou menor em importância pra mim mesmo do que imaginava. Nem mesmo consegui me salvar. Restará sobreviver, já que viver tá uma barra.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Mudança
Já me dissram que a vida é simples... simples demais para uma cabeça cabeluda e complexa como a minha entender. Via das dúvidas observo mudanças próximas. Não somente as físicas, mas algo me atinge a psiquê sobremaneira. Percebo que anda chovendo muito... e a chuva sempre me faz pensar... parece que São Pedro anda vendo lá do alto os meus miolos quentes e rega com um pouco de chuva fresca.
Juro que tenho tentado sair debaixo dessas nuvens, mas a chuva não me larga. Brigo com todo mundo. Quem precisa e quem não precisa. Outro dia fiquei de mal comigo mesmo por causa de umas besteiras que fiz. Aliás, tô ficando bom nisso. Já fui rude, mas já superei isso: agora sou só grosso. O bom em ter amigos é que alguns deles sempre nos lembram disso.
Não tem jeito... é pra frente que as pernas empurram o que resta de corpo...junta os pedaços e anda rapá...
Nada melhor do que um dia após o outro pras coisas clarearem... engraçado... a chuva parou lá fora ! Mas aqui dentro.....
Juro que tenho tentado sair debaixo dessas nuvens, mas a chuva não me larga. Brigo com todo mundo. Quem precisa e quem não precisa. Outro dia fiquei de mal comigo mesmo por causa de umas besteiras que fiz. Aliás, tô ficando bom nisso. Já fui rude, mas já superei isso: agora sou só grosso. O bom em ter amigos é que alguns deles sempre nos lembram disso.
Não tem jeito... é pra frente que as pernas empurram o que resta de corpo...junta os pedaços e anda rapá...
Nada melhor do que um dia após o outro pras coisas clarearem... engraçado... a chuva parou lá fora ! Mas aqui dentro.....
terça-feira, 3 de novembro de 2009
O Silêncio das Palavras
Sou um desatento ambulante no curso da minha própria vida e agora percebo o rastro que tenho deixado. Hoje, na distância da minha idade, peso na balança que sempre trago comigo, as contribuições que pude oferecer aos que encontrei por aí.
Quanto de silêncio tenho gerado a minha volta ? Percebo que chego num certo ponto de pseudo-entendimento da verdade das coisas e daqui vejo que sou muito mais útil oferecendo o silêncio às palavras mal-ditas. Se nada tenho a revelar, por que dizer algo só para preencher o vazio entre a sua pergunta e o meu entendimento ?
Apesar de saber que nunca serei senhor da musicalidade e nunca passarei de um medíocre executor de obras prontas, descobri o espaço necessário entre as notas de uma pauta. E da pauta da minha vida, em plena execução, Hei de trocar algumas colcheias por pausas. E diametralmente oposto ao entendimento mediano de quem busca ajuda, concluo que tenho muito mais a oferecer com meu silêncio do que com minhas palavras. E as vezes a certeza disso me assusta e me escondo aqui... por detrás das letras. D'onde ninguém tem a obrigação me escutar e ninguém há de me achar.
Escrever é meu ofício-mor. Oficio oficioso porque daqui não ganho o pão, mas trago o verbo. Sou trazido pela minha necessidade de comunicar a ninguem mais a não ser a mim, as minhas próprias ideias. Ou ao menos meu entendimento do que acho prudente registrar. Não sou objeto de grandes revelações ao mundo, mas conto para meus olhos, o que meus dedos transcrevem. Sou feito em partes e compreendido como um todo. Penso. Escrevo e Leio. Sou três partes que usam esta interface escrita para se comunicar.
Hoje não vou falar mais. Chega de barulho. Quero o silêncio das letras neste pedaço de espaço que algum dia no futuro vou ler e reler na esperança de aprender melhor como se faz o silêncio a partir das palavras.
Quanto de silêncio tenho gerado a minha volta ? Percebo que chego num certo ponto de pseudo-entendimento da verdade das coisas e daqui vejo que sou muito mais útil oferecendo o silêncio às palavras mal-ditas. Se nada tenho a revelar, por que dizer algo só para preencher o vazio entre a sua pergunta e o meu entendimento ?
Apesar de saber que nunca serei senhor da musicalidade e nunca passarei de um medíocre executor de obras prontas, descobri o espaço necessário entre as notas de uma pauta. E da pauta da minha vida, em plena execução, Hei de trocar algumas colcheias por pausas. E diametralmente oposto ao entendimento mediano de quem busca ajuda, concluo que tenho muito mais a oferecer com meu silêncio do que com minhas palavras. E as vezes a certeza disso me assusta e me escondo aqui... por detrás das letras. D'onde ninguém tem a obrigação me escutar e ninguém há de me achar.
Escrever é meu ofício-mor. Oficio oficioso porque daqui não ganho o pão, mas trago o verbo. Sou trazido pela minha necessidade de comunicar a ninguem mais a não ser a mim, as minhas próprias ideias. Ou ao menos meu entendimento do que acho prudente registrar. Não sou objeto de grandes revelações ao mundo, mas conto para meus olhos, o que meus dedos transcrevem. Sou feito em partes e compreendido como um todo. Penso. Escrevo e Leio. Sou três partes que usam esta interface escrita para se comunicar.
Hoje não vou falar mais. Chega de barulho. Quero o silêncio das letras neste pedaço de espaço que algum dia no futuro vou ler e reler na esperança de aprender melhor como se faz o silêncio a partir das palavras.
sábado, 19 de setembro de 2009
Letras S o L T a s
Encostado à janela, sentia o corpo balançar a cada marcha mal passada. Alguns poucos se arriscavam a levantar diante do sacolejo costumeiro do coletivo. Umas vinte cabeças tombavam juntas a cada curva acentuada e a minha, não diferente, ia junto.
É engraçado ver a monotonia de quem faz sempre a mesma viagem. Os rostos, suados e assimétricos pelo calor que faz franzir as sombracelhas, pareciam sempre conhecidos. Não que eu já os tenha visto realmente, mas pelo fato de não trazerem novidades. Sem espanto parecem costumeiros. Da distância do meu lugar cativo, sempre à direita nos bancos próximos a porta, percebo claramente quem é novato no trajeto. O semblante traz preocupação na escolha do lugar onde sentar, se o lugar pega sol ou não durante o percurso, quem poderia ser uma boa companhia para a viagem e outras variáveis psicológicas tolas que antecedem o depósito da cansada bunda no assento.
Da suja janela estiquei o olho para os transeuntes apáticos zanzando na rua lá embaixo...ambulantes tentavam comprovar no grito a qualidade duvidosa da água que vendem. Fazia calor. Muito calor. Entre um arranque e outro do ônibus, um velho se distraiu e ao passar da roleta quase caiu...esbravejou algo que parecia ter a ver com a mãe do motorista e saiu jogando as moedas no fundo do bolso e mastigando a própria lingua. Uma moça, em apoio ao velho senhor, ameaçou falar algo, mas logo foi abafada pelo mascate que insistia em vender a sua garrafa d'água pra mim...só porque eu estava olhando ele pela janela ele interpretou, na sua visão comercial, como uma oportunidade de negócio....
Êta mundo maluco...a miséria está a nossa frente todos os dias e quase nunca a percebemos. Naquele dia ela veio disfarçada de gente...um rapaz moribundo com um menino no colo...sujo.... e esquecido. Sem nome como todos os que vejo da janela. Tinha apenas o braço estendido ao coletivo e o outro amparando o pequeno ao ombro. Fez o sinal para que ônibus parasse. Ao perceber que ele seria o único passageiro a embarcar naquele ponto, mais uma marcha mal colocada foi engatada e o carro acelerou forte como se resmungasse. Aquele braço estendido lá na rua ficou acompanhado de um olhar triste... da cor do asfalto. Olhos da cor do asfalto. Pensei o que passaria por aquela cabeça descabelada e confusa...será que ele concluiria, no meio da sua apatia, que sua miséria não era digna de embarcar naquele veículo ? Não... Acho que nem isso. Ele não deve ter pensado nada...nestas horas o silêncio acompanha a decepção. Só consegui saber disso e simular um possível pensamento porque ainda tinha no estômago algo proteico... e ele talvez nada mais tinha de proteico na vida. Nada a pensar ou a concluir...sabia que estava esquecido...rejeitado e sem nome...
Do meu lado não se sentou ninguém naquele dia. Achei que deveria ter sido pela minha barba por fazer. Talvez minha aparência tivesse sido uma variável negativa nas decisões dos que escolhiam lugar...sacolejei o mesmo caminho até meu ponto. Tombei minha cabeça nas mesmas curvas...mas até hoje ainda não esqueci aquele olhar ficando pra trás no ponto do ônibus. No ponto do esquecimento.
É engraçado ver a monotonia de quem faz sempre a mesma viagem. Os rostos, suados e assimétricos pelo calor que faz franzir as sombracelhas, pareciam sempre conhecidos. Não que eu já os tenha visto realmente, mas pelo fato de não trazerem novidades. Sem espanto parecem costumeiros. Da distância do meu lugar cativo, sempre à direita nos bancos próximos a porta, percebo claramente quem é novato no trajeto. O semblante traz preocupação na escolha do lugar onde sentar, se o lugar pega sol ou não durante o percurso, quem poderia ser uma boa companhia para a viagem e outras variáveis psicológicas tolas que antecedem o depósito da cansada bunda no assento.
Da suja janela estiquei o olho para os transeuntes apáticos zanzando na rua lá embaixo...ambulantes tentavam comprovar no grito a qualidade duvidosa da água que vendem. Fazia calor. Muito calor. Entre um arranque e outro do ônibus, um velho se distraiu e ao passar da roleta quase caiu...esbravejou algo que parecia ter a ver com a mãe do motorista e saiu jogando as moedas no fundo do bolso e mastigando a própria lingua. Uma moça, em apoio ao velho senhor, ameaçou falar algo, mas logo foi abafada pelo mascate que insistia em vender a sua garrafa d'água pra mim...só porque eu estava olhando ele pela janela ele interpretou, na sua visão comercial, como uma oportunidade de negócio....
Êta mundo maluco...a miséria está a nossa frente todos os dias e quase nunca a percebemos. Naquele dia ela veio disfarçada de gente...um rapaz moribundo com um menino no colo...sujo.... e esquecido. Sem nome como todos os que vejo da janela. Tinha apenas o braço estendido ao coletivo e o outro amparando o pequeno ao ombro. Fez o sinal para que ônibus parasse. Ao perceber que ele seria o único passageiro a embarcar naquele ponto, mais uma marcha mal colocada foi engatada e o carro acelerou forte como se resmungasse. Aquele braço estendido lá na rua ficou acompanhado de um olhar triste... da cor do asfalto. Olhos da cor do asfalto. Pensei o que passaria por aquela cabeça descabelada e confusa...será que ele concluiria, no meio da sua apatia, que sua miséria não era digna de embarcar naquele veículo ? Não... Acho que nem isso. Ele não deve ter pensado nada...nestas horas o silêncio acompanha a decepção. Só consegui saber disso e simular um possível pensamento porque ainda tinha no estômago algo proteico... e ele talvez nada mais tinha de proteico na vida. Nada a pensar ou a concluir...sabia que estava esquecido...rejeitado e sem nome...
Do meu lado não se sentou ninguém naquele dia. Achei que deveria ter sido pela minha barba por fazer. Talvez minha aparência tivesse sido uma variável negativa nas decisões dos que escolhiam lugar...sacolejei o mesmo caminho até meu ponto. Tombei minha cabeça nas mesmas curvas...mas até hoje ainda não esqueci aquele olhar ficando pra trás no ponto do ônibus. No ponto do esquecimento.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Depois da tempestade...
Queria que fosse sol...mas por hora é só vento.
Talvez sopre para perto...talvez para longe...E a vida continua no melhor estilo carretel, mas sempre é bom ouvir boas palavras de boas pessoas.
Talvez sopre para perto...talvez para longe...E a vida continua no melhor estilo carretel, mas sempre é bom ouvir boas palavras de boas pessoas.
Que o vento leve a fase chuvosa que paira nesses dias cinzentos. Que reste algo que aqueça o chão e a água torne-se novamente vapor...mas está ventando...e o vento sempre leva alguma coisa e acaba por mudar a forma das próximas chuvas.
Amanhã há de ser um dia melhor.
Como sempre espero que seja.
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