De quando em vez ponho-me a divagar entre as letras que
escorrem do meu teclado e fico admirando o tempo passar sem que nada de
proveitoso eu coloque no mundo das letras. Isso certamente poupa o prezado, e
raro, leitor dos infortunados pensamentos semeados por este escriba, mas desta
vez quero fazer diferente, já que o ano se mostra iniciado após as momescas
celebrações!
Aposentado o ofício de pessoa semi-séria desde alguns dias passados,
deixei uma fresta de olho aberta para acompanhar o Carnaval. Não consegui superar a inércia
e a precaução a ponto de ir pessoalmente ver os balagadans saculejantes na
avenida, mas sintonizei na TV e posicionei-me a uma distância segura. Mesmo
assim fui atingido por polpudas nádegas que teimavam em mostrar aquilo que um
dia era conhecido por nomes mais carinhosos... Diante do sucesso recheado de silicone, tudo no Carnaval
toma proporções dantescas. Os carros alegóricos tornaram-se moradia de seres
medonhos. Figuras móveis que bufam, piscam, dragões ou criações gigantescas... são
quase fantasmagóricos...vez ou outra até percebia que tinha gente desfilando...
isso quando as fantasias, penas, plumas e paetês permitiam ver uma boca ou um
olho atrás do enredo-vestido-de-gente.
Sambas incantáveis! Deve demorar um ano pra decorar letras
tão complexas com rimas ocultas e significados misteriosos. A velha guarda
desfilava no meio das carnes balançantes cantando sambas que melhor lhe viessem
à memória. Os intérpretes que já chegavam pré-suados no carro, davam o grito de
guerra... chamavam a comunidade na marra pro pau e lascavam o gogó por duros 88
minutos.
Enquanto isso comentaristas, dotados de uma cultura
avantajada, despejavam uma verborragia de jargões nascidos e ensaiados para dias
como estes que se passaram. 50 mil tomadas diferentes de câmera não permitiam nem saber se a escola estava no meio ou no fim do desfile.
A apuração foi outra festa... mas com uma tensão adicional: como
se a vida dependesse disso para seguir seu curso. Cordões e dentes de ouro
desfilaram entre milhares de papeis sobre as mesas do Sambódromo. Canetas
frenéticas anotaram cada décimo de nota conquistado ou perdido. Teve abraço no
presidente, no carnavalesco, no repórter...confraternização e agradecimentos à um
rosário inteiro de divindades que, reza a lenda, estiveram por ali na hora do
desfile. Tenho cá minhas dúvidas.
Mas isso não é uma crítica!!! De forma alguma. É somente
minha opinião. Teve seus momentos bons: a cerveja gelada goela abaixo em
concordância maléfica com o antibiótico ingerido previamente fez um barato
legal! Melhor do que 3D. Nunca tinha visto o jacaré de papo-amarelo abraçado
com a Águia da Portela, mas esse ano ele tava lá.. .ou melhor aqui em casa!
Diante do que vi, arrisco o cargo de previsões para o
Carnaval de 2014: Ano que vem vão criar o Carnaval dual-layer: Um escola no
andar de baixo e outra no andar de cima. Uma indo e outra voltando. E com malabares
de fazer inveja ao pessoal do Soleil. As paradinhas da bateria durarão uns 30
ou 40 minutos... e vão voltar tocando bolero-funk em cuícas eletrônicas efeitadas com LEDs. No
nordeste devem continuar os ritmos que só ficam bons por lá mesmo e um pouco
melhores se dançados na horizontal.... é tanto esfrega-gente no circuito
Barra-Ondina que se não jogarem água de vez em quando deve sair até fogo...
Trios elétricos tocarão sucessos duvidosos com cerca de 5000 pessoas trepadas em cima... e algumas outras tantas
trepando embaixo, regadas com bebidas energéticas vendidas em galões de 5 litros.
Mas é hora de cinzas na testa. Fim de pista para o folião
cansado. Agora resta pagar a fantasia e o IPVA. E seguir a vida entre os
engarrafamentos e trens lotados a espera de um novo festival da carne. Para o
pessoal da fé, tem que rezar muito, mesmo sem Papa pra segurar a onda de
2013...
Putz... e eu que tava contando com o fim do mundo...