domingo, 20 de dezembro de 2009

Mudança

Já me dissram que a vida é simples... simples demais para uma cabeça cabeluda e complexa como a minha entender. Via das dúvidas observo mudanças próximas. Não somente as físicas, mas algo me atinge a psiquê sobremaneira. Percebo que anda chovendo muito... e a chuva sempre me faz pensar... parece que São Pedro anda vendo lá do alto os meus miolos quentes e rega com um pouco de chuva fresca.

Juro que tenho tentado sair debaixo dessas nuvens, mas a chuva não me larga. Brigo com todo mundo. Quem precisa e quem não precisa. Outro dia fiquei de mal comigo mesmo por causa de umas besteiras que fiz. Aliás, tô ficando bom nisso. Já fui rude, mas já superei isso: agora sou só grosso. O bom em ter amigos é que alguns deles sempre nos lembram disso.

Não tem jeito... é pra frente que as pernas empurram o que resta de corpo...junta os pedaços e anda rapá...

Nada melhor do que um dia após o outro pras coisas clarearem... engraçado... a chuva parou lá fora ! Mas aqui dentro.....

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Silêncio das Palavras

Sou um desatento ambulante no curso da minha própria vida e agora percebo o rastro que tenho deixado. Hoje, na distância da minha idade, peso na balança que sempre trago comigo, as contribuições que pude oferecer aos que encontrei por aí.

Quanto de silêncio tenho gerado a minha volta ? Percebo que chego num certo ponto de pseudo-entendimento da verdade das coisas e daqui vejo que sou muito mais útil oferecendo o silêncio às palavras mal-ditas. Se nada tenho a revelar, por que dizer algo só para preencher o vazio entre a sua pergunta e o meu entendimento ?

Apesar de saber que nunca serei senhor da musicalidade e nunca passarei de um medíocre executor de obras prontas, descobri o espaço necessário entre as notas de uma pauta. E da pauta da minha vida, em plena execução, Hei de trocar algumas colcheias por pausas. E diametralmente oposto ao entendimento mediano de quem busca ajuda, concluo que tenho muito mais a oferecer com meu silêncio do que com minhas palavras. E as vezes a certeza disso me assusta e me escondo aqui... por detrás das letras. D'onde ninguém tem a obrigação me escutar e ninguém há de me achar.

Escrever é meu ofício-mor. Oficio oficioso porque daqui não ganho o pão, mas trago o verbo. Sou trazido pela minha necessidade de comunicar a ninguem mais a não ser a mim, as minhas próprias ideias. Ou ao menos meu entendimento do que acho prudente registrar. Não sou objeto de grandes revelações ao mundo, mas conto para meus olhos, o que meus dedos transcrevem. Sou feito em partes e compreendido como um todo. Penso. Escrevo e Leio. Sou três partes que usam esta interface escrita para se comunicar.

Hoje não vou falar mais. Chega de barulho. Quero o silêncio das letras neste pedaço de espaço que algum dia no futuro vou ler e reler na esperança de aprender melhor como se faz o silêncio a partir das palavras.

sábado, 19 de setembro de 2009

Letras S o L T a s

Encostado à janela, sentia o corpo balançar a cada marcha mal passada. Alguns poucos se arriscavam a levantar diante do sacolejo costumeiro do coletivo. Umas vinte cabeças tombavam juntas a cada curva acentuada e a minha, não diferente, ia junto.

É engraçado ver a monotonia de quem faz sempre a mesma viagem. Os rostos, suados e assimétricos pelo calor que faz franzir as sombracelhas, pareciam sempre conhecidos. Não que eu já os tenha visto realmente, mas pelo fato de não trazerem novidades. Sem espanto parecem costumeiros. Da distância do meu lugar cativo, sempre à direita nos bancos próximos a porta, percebo claramente quem é novato no trajeto. O semblante traz preocupação na escolha do lugar onde sentar, se o lugar pega sol ou não durante o percurso, quem poderia ser uma boa companhia para a viagem e outras variáveis psicológicas tolas que antecedem o depósito da cansada bunda no assento.

Da suja janela estiquei o olho para os transeuntes apáticos zanzando na rua lá embaixo...ambulantes tentavam comprovar no grito a qualidade duvidosa da água que vendem. Fazia calor. Muito calor. Entre um arranque e outro do ônibus, um velho se distraiu e ao passar da roleta quase caiu...esbravejou algo que parecia ter a ver com a mãe do motorista e saiu jogando as moedas no fundo do bolso e mastigando a própria lingua. Uma moça, em apoio ao velho senhor, ameaçou falar algo, mas logo foi abafada pelo mascate que insistia em vender a sua garrafa d'água pra mim...só porque eu estava olhando ele pela janela ele interpretou, na sua visão comercial, como uma oportunidade de negócio....

Êta mundo maluco...a miséria está a nossa frente todos os dias e quase nunca a percebemos. Naquele dia ela veio disfarçada de gente...um rapaz moribundo com um menino no colo...sujo.... e esquecido. Sem nome como todos os que vejo da janela. Tinha apenas o braço estendido ao coletivo e o outro amparando o pequeno ao ombro. Fez o sinal para que ônibus parasse. Ao perceber que ele seria o único passageiro a embarcar naquele ponto, mais uma marcha mal colocada foi engatada e o carro acelerou forte como se resmungasse. Aquele braço estendido lá na rua ficou acompanhado de um olhar triste... da cor do asfalto. Olhos da cor do asfalto. Pensei o que passaria por aquela cabeça descabelada e confusa...será que ele concluiria, no meio da sua apatia, que sua miséria não era digna de embarcar naquele veículo ? Não... Acho que nem isso. Ele não deve ter pensado nada...nestas horas o silêncio acompanha a decepção. Só consegui saber disso e simular um possível pensamento porque ainda tinha no estômago algo proteico... e ele talvez nada mais tinha de proteico na vida. Nada a pensar ou a concluir...sabia que estava esquecido...rejeitado e sem nome...

Do meu lado não se sentou ninguém naquele dia. Achei que deveria ter sido pela minha barba por fazer. Talvez minha aparência tivesse sido uma variável negativa nas decisões dos que escolhiam lugar...sacolejei o mesmo caminho até meu ponto. Tombei minha cabeça nas mesmas curvas...mas até hoje ainda não esqueci aquele olhar ficando pra trás no ponto do ônibus. No ponto do esquecimento.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Depois da tempestade...

Queria que fosse sol...mas por hora é só vento.

Talvez sopre para perto...talvez para longe...E a vida continua no melhor estilo carretel, mas sempre é bom ouvir boas palavras de boas pessoas.


Que o vento leve a fase chuvosa que paira nesses dias cinzentos. Que reste algo que aqueça o chão e a água torne-se novamente vapor...mas está ventando...e o vento sempre leva alguma coisa e acaba por mudar a forma das próximas chuvas.

Amanhã há de ser um dia melhor.

Como sempre espero que seja.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Chuva...

Novamente está chovendo. Não somente lá fora, mas também aqui dentro...
As gotas morosas da chuva demoram meio século para percorrer a distancia de uma testa...cai no cabelo e chega quente no queixo. Se Russo eu fosse, que nem o Renato, diria que a tempestade lá fora é da cor dos seus olhos... A parte do: "me abraça forte" parece não ter sido cantada nesses dias tempestuosos. Decepção...perdão que não quer chegar...eu chamo mas ele não vem. Vai ver que chega algum dia desses... mas hoje ele não deu as caras por aqui.
Desta vez conservo as janelas fechadas, mas a chuva está aqui dentro. E o raio tempestuoso ioniza minhas palavras...hoje sou todo tempestade. Meu calor se foi. Estou frio...sem a temperatura habitual. Já fui tempestade de verão que bate, molha e passa. Fui chuva rápida de fim de tarde que só refresca o chão e num instante some...sem vestígios. Hoje não! Hoje sou torrente! Desaguando forte chão afora porque lá e meu lugar. Quem disse que eu, chuva rude, deveria viver no céu ? Lá é lugar para coisas mais leves, não pra mim: Sou denso. Intenso demais para ficar sonhando em ser nuvem. Metido a bobo. Quem manda querer ficar pairando no ar... flutuar não é meu destino...basta uma só porrada para que eu despenque das alturas e me acabe no chão...
Hoje estou aqui.
No chão.
Chão.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

InSoMniA

Aperto os olhos para ver o relógio que parece tão pequeno diante da madrugada e dos meus 40 anos de miopia. São 2:30h da madrugada de segunda-feira. Sete de setembro. Talvez os militares estejam já a postos para o desfile e eu vendo desfilar diante dos meus olhos arregalados as horas passando.

O ritual de escovar os dentes e tomar o último gole de água da noite não me fez sentir mais próximo da cama. Deitei-me e enfiei a cara no travesseiro, como se procurasse alguma coisa do sono da última noite. O prenúncio de chuva seguido pelo assobio do vento nas frestas das janelas, fez-me sair da cama novamente...tudo fechado. O que mais poderia faltar para ir às terras de Morpheu. Pensamentos ao alto. Oração sem forma específica...quase um bate-papo com o Criador. Fiz perguntas...várias...na verdade acho que enchi saco do Homem lá de cima...A resposta veio como um baque. Um estrondo. Um raio seguido de um trovão acordou quem aqui dormia...eu que jazia na cama desfeita pelo remelexo do corpo sem sono, levantei novamente. Agora já não estava mais sozinho. Caras assustadas em meio a chuva fina surgiam nas sacadas...os alarmes dos carros tocaram e assim ficaram por mais uns 30 minutos. Aos poucos as luzinhas dos prédios vizinhos foram se apagando...todos voltaram de onde tinham saído... e eu ?

Pensamentos ferviam na cabeça esfriada pela água da chuva que tomei ao espiar da janela. Senti que todos no mundo estavam dormindo...menos eu. O que poderia haver de mais interessante do que olhar minhas próprias pálpebras pelo lado de dentro ? Qualquer dia desse vou comprar um relógio de corda só para ouvir o tique-taque companheiro dessas horas noturnas... hoje é tudo digital... que saco... nem a torneira da pia estava pingando para que eu pudesse culpa-la...

A culpa era minha. Isso. Só minha. Minha cabeça barulhenta perturbou a parte de mim que teimava em dormir...decerto que alimentada por pensamentos que tiram o sono...mas eu busquei por eles e achei...se você não entendeu, não esquente...não era pra entender mesmo... a não ser que você também queira perder o sono.

E a vida muda...

Já gastei muita energia tentando planejar o futuro...gastei energia revendo o passado...chega de futurismo. Quero viver cada dia, cada minuto como uma surpresa. Planejar somente aquilo que é indispensável e deixar o vento do dia guiar o proximo passo. Pode o incauto leitor achar que já viu algo disto escrito em alguma porta de banheiro dessas da vida, mas pouco importa. Eu quero é ser feliz por hoje. Amanhã eu dou um jeito..e se der, serei feliz de novo.

Sabe aqueles dias em que você se senta ao lado de alguém no onibus e sua cabeça fervilha com os ultimos acontecimentos. Aquele mesmo sol, aquele mesmo maldito engarrafamento, aquele mesmo sinal de transito que demora eternos 2 minutos para abrir...tudo que ontem era igual, à luz do dia de hoje me parece diferente. Na ultima semana tive dias ruins...dias inevitéveis... acontecimentos que doeram ao coração, por alguem que se foi e por aqueles que ficaram. Daqui da estação do trem de onde meu coração está, sinto a dor da partida, mas contento-me com a esperança de um reencontro. Fé e esperança. Força para o dia de amanhã. Porque hoje eu venci !

domingo, 6 de setembro de 2009

Primeiras Letras

Eis que largo neste pequeno cyber-espaço minhas primeiras e acanhadas impressões. Impressões sobre o que me vem a cabeça no instante que escrevo. Comprometo-me em desfiar por entre estas linhas minhas memórias... não as clássicas e enfadonhas memórias, até porque eu não as conservo. Trago-lhes à apreciação minhas recentes lembranças...que nem chegam ao status de memória...

As imagens do dia que me surgem à mente antes que o sono me empurre pra cama...
Não torço pra que ninguém me descubre, nem se importe com o que eu escrevo, mas me soa bem esvaziar minha vontade intensa de escrever e falar ao mundo...gritar pelos dedos as palavras que tenho vontade de soltar pela boca.

Sejam bem-vindos ao meu primeiro post... se me descobrirem por acaso não me avisem... gosto do anonimato disfarçado de público que só um blog pode permitir...

EdKiller